domingo, 28 de novembro de 2010

O CANTO DA ESQUINA

domingo, 28 de novembro de 2010 0



Deixe-me aqui, neste canto desafinado

É uma esquina rouca, quase muda

Mas nunca sai deste canto

Ainda que eles tapem os ouvidos

Esqueça-me aqui, neste canto desentoado

É uma aresta fria, quase um gelo

Mas nada agasalha o meu canto

Nem mesmo eles, tão frios

Largue-me aqui, neste canto sem sorte

É uma quina sem ganhador, quase um gasto

Mas este é meu único canto

Ainda que eles tentem me calar

Abandone-me aqui, neste canto malsoante

É um vértice faminto, quase uma cratera

Mas, neste canto eu espero

Que um dia eles me ouçam, em breve ou semibreve



Poema: Flávio Leite
Desenho: Wesley Rodrigues

Subconscientemente


Mente a sua mente
Quando esquece facilmente
Dos bons e velhos camaradas
De quão longa jornada
Que se fazem presentes
Verdadeiramente: presentes
No abraço oxigenante
No ombro apoiante
Ante o peso lacrimal
Vertido sobre um peitoral
Que inevitavelmente carrega
Per fuma e rega
Um coração quebrado pela ira
De uma imprudente mentira
Mente sua mente mente
Quando olvida ingratamente
Dos grandes companheiros
Que se fazem herdeiros
Das lembranças mais ensolaradas
Destas longas caminhadas
Outrora e sempre presentes
Verdadeiros: Presentes
Oh mente doce!
Por que mentes docemente?
Peço-lhe simplesmente
Não se esqueça desses Entes
Para não quebrar-me esta rima de repente
Se o esquecimento é algo indiferente
Esquece-me então a dor de dente
A dor latente,
A dor ardente...
Pois o esquecimento é
Uma calúnia de mente
Esquecer-se de algo importante
Não é lá muito elegante
calma! Nada está perdido
Ou na alma está inocivo
Ou despertará no inconsciente coletivo

Poema: Subconscientemente Autor: Flávio Leite
Desenho: Wesley Barbosa

Dos esquecimentos

Ando meio desligado.
Acabei por esquecer umas coisas
que tinha de esquecer.


Flávio leite

Das sacanagens

Após três km de corrida,
alguém brinca:
estás com uma barriguinha aí!

Flávio Leite

Dos psicanalístas

Psicanalista: um amigo profissional
que prostitui o cérebro.
Ele o ajuda a permear dramas do quotidiano
através de técnicas analíticas e arqueológicas.
Seu trabalho consiste em ouvir, observar,
interpetrar, devolver o que você disse
e ganhar os créditos de uma possível melhora.


Flávio Leite

Das mexericas

Há várias luas minguantes ensolaradas
dentro de uma mexerica.

Flávio Leite

Poeminha

Olho-me no espelho, um pesadelo me abraça
Meus cabelos, que eram pretos, estão da cor de fumaça
Eu não quis gastar com tinta
E o Tempo pintou de graça

José Vitorino Leite (avô)
 
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